quinta-feira, 19 de junho de 2008

cristal líquido

"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."
Alberto Caeiro



Cheguei mais perto e vi que era um magnífico cristal. Cheio de faces, múltiplas delas; algumas translúcidas, outras completamente negras, algumas espelhadas. De cada ângulo que o fitava, observava novos detalhes. Cada raio de luz que incidia parecia transformá-lo em um cristal diferente, dadas as cores que resplandeciam, imagens distorcidas que surgiam não-sei-donde-nem-como, e reflexos que reluziam. Eu tirava os olhos do cristal e tentava imaginá-lo. Não conseguia: sempre esquecia uma sombra, não lembrava de um vértice, não podia ter certeza da existência de uma face e de sua respectiva posição, lá onde ela estaria oculta caso o cristal estivesse, de fato, sendo observado. Era como se, arisco que fosse, não deixasse que minha memória o domasse, de modo que não conseguia aprisioná-lo e o levar comigo para o pensamento. Punha-lhe, novamente, os olhos, e lá estava ele – inédito. E assim, por milhões de anos, permaneceu sempre inédito a todos, a cada segundo e a cada movimento do sol.

2 comentários:

Anônimo disse...

filosofia moderna dos pre-socraticos!
a cada momento uma nova observacao, a cada momento um novo cristal, a cada momento um "novo" observador.

PG disse...

Seu cristal líquido é nemático, esmético ou colestérico?

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil